sexta-feira, 20 de junho de 2014

Bom dia


        Não canso de comentar que acho, tenho a leve impressão, de que nasci na época errada, mas me pego pensando nas facilidades do mundo de hoje (nossa querida internet) e cheguei à conclusão de que não, não nasci na época errada. Não existe época para boa educação, cumprimentos e sociabilização. As pessoas é que não sabem mais fazer isso.

        Confirmei essa minha teoria com o teste do “Bom dia” e do “Como vai você?”, que apliquei por um período de três semanas e que consiste basicamente em dizer “Bom dia” para as pessoas e esperar uma resposta educada ou mesmo um sorriso. Para minha surpresa, teve quem passou direto. Essas pessoas que ignoravam, eu continuei cumprimentando e, para minha surpresa, um dia elas passaram a responder e foram se animando mais no decorrer dos dias. Logo, não era só eu que desejava “Bom dia” e puxava conversa, as pessoas pareceram ficar mais sociáveis e também mais... Na falta do termo chamarei de “humanas”. Se você considerou pleonasmo considere também que, nesse mundo repleto de tecnologia, de mensagens rápidas e instantâneas, chamar as pessoas de “humanas” é mais que elogio.

        O que vale um “Bom dia” pra você?

Laura Penha

segunda-feira, 31 de março de 2014

Coisas para se fazer antes de morrer



        Depois de ler o título você deve estar imaginando coisas mais absurdas possíveis, como: saltar de paraquedas peladão, raspar o cabelo no zero, nadar em uma piscina de dinheiro, ir a uma praia de nudismo; e assim por diante. Claro, há outras loucuras não citadas, mas seria loucura minha citá-las. Desculpe acabar com sua expectativa, mas não é nada disso.
        Depois de ler tantas listas repletas de absurdisses, resolvi criar minha própria listinha de Coisas para se fazer antes de morrer.
        Escrevi muitos itens, o suficiente para preencher um lado completo de uma folha.
        Ler, ler numa varanda, sorrir e chorar por amor, esquecer um amor, viver sem dor, dormir até tarde em dia de chuva, dançar na chuva, rir sem razão, fazer uma viagem inesperada, esperar uma viagem, cantar no chuveiro, manter os poucos amigos, fazê-los felizes com piadas sem graça, tomar banho de mangueira, subir numa árvore, ler sob a copa de uma árvore, aprender de tudo um pouco e um pouco de tudo, casar, ter filhos, cantar para eles dormirem, ler uma história, preparar o café da manhã, ir trabalhar, ter cabelos grisalhos, sentar numa poltrona macia, fechar meus olhos, sonhar eternamente.
        Encarei a folha com a testa franzida. Eu estava sendo muito exigente.
        Mas se nada der certo, risco a folha e escrevo no verso: "Ser feliz".

Laura Penha



segunda-feira, 24 de março de 2014

Risquinhos malditos


        São tantos risquinhos nessa folha de papel que dá até raiva de começar a leitura. Bem, é claro que a professora tinha que passar um livro. O problema não é o livro, são as perguntas depois que a gente lê. Ela faz uma arguição tão medonha que nenhum resumo de internet ajuda, por isso a solução mais óbvia é ler. Mas o que fazer se a leitura é uma atividade tão chata? Por que ela não podia passar um filme baseado no livro? Eu assistia com gosto e, se ela quisesse ainda levava um relatório e uma maçã de presente, embora eu ache que esse lance de todo professor gostar de maçã seja só um mito. Talvez ela seja humana e não uma máquina de ensino que funciona a base de maçãs. Seria intrigante se fosse.

        É claro que, não bastasse passar livros, sempre me escolhia para responder as perguntas na sala de aula, não tenho nada contra isso, mas ela bem que podia tentar acertar meu nome (ou me chamava só de Bel ou de Vih). Prazer, Mara Belinácia Viana da Silva. Calma, eu explico. Minha mãe queria fazer uma homenagem a mãe dela, minha avó, e escolheu o nome Maria. Infelizmente o escrivão era surdo de um ouvido e o outro já não funcionava muito bem. Em vez de Maria, recebi o nome de Mara. O lado bom é que ele não acrescentou nada (já pensou se meu nome fosse Maraia?). Quanto ao segundo nome não teve erro. Minha mãe se chama Belinda, meu pai Inácio, logo a primeira filha se chamaria... Pois é. Minha irmã mais nova recebeu um nome mais normal, por que eu cheguei falando o quanto ela ia sofrer com um nome estranho como Lindinácia. Sugeri Lívia. Claro, tinha que ter o toque especial dos meus pais, então para parecer completamente intencional adicionaram o Mara na frente do nome dela. Mara Lívia.

        Família de classe média faz isso com os filhos.

        Letras, letras... Por que vocês existem? Li o livro em quarenta minutos, anotei algumas coisas importantes e fui dormir. A arguição era amanhã e não queria o pessoal aqui em casa caíndo em cima de mim por uma nota baixa em interpretação textual. Tá, não é só por isso. O Gui gosta muito de ler, anda sempre com um livro embaixo do braço, já pensou se eu impressiono? No intervalo, ele fica lendo com um sorriso lindo estampado no rosto, pelo menos na maioria das vezes. Tem dias que ele deixa escorrer uma lágrima, outros dias ele fica com uma cara tão tensa e tem um clima tão pesado ao redor dele que tenho até medo de chegar perto.

        Uma vez até perguntei como se gostasse: - O que você tá lendo?

        - Um livro. - E nunca mais nos falamos.

        Foi nosso primeiro e último diálogo, embora sempre que ele olha pra mim pareça desesperadamente querer me dizer "me desculpa, não quis ser um idiota". Mas não me importa muito o que ele quer ou pareça querer dizer. Um pedido de desculpas silencioso, não é um pedido de desculpas. Ponto final.

        Eu já estava deitada, quase dormindo, quando Gui me sumiu da lembrança e apareceu um monstro gritando "zero, tirou um zero". Levantei e fui até a cozinha. Tinham cinco maçãs na geladeira. Separei a mais vermelhinha para amanhã e fui dormir.

        Quem sabe eu tinha sorte e ela estava de bom humor.

Laura Penha




sexta-feira, 21 de março de 2014

Clube de escritores decadentes - 2

      


       Escrever é algo complicado, mesmo. E eu que achava que essa vida era fácil, hoje me deparo com essa dura realidade. É complexo colocar num papel um amontoado de palavras que representam o seu pensamento, em um determinado momento. Não estou me prendendo apenas à literatura, mas me refiro também a outros gêneros. Quais os critérios usados para consagrar a sua obra como um texto de excelente qualidade, ou uma verdadeira tragédia que o mundo da literatura poderia assistir, ou um desastre resumido em palavras e ideias sem sentido. 

     Não sei se lembram de mim (por que insisto em ser lembrada?), mas escrevi algumas coisas (que respaldo eu terei nomeando meus livros de "coisas?") que fizeram um sucessinho. Teve épocas em que eu cheguei a vender uns... 30 livros em apenas um ano. Sério, eu consegui vender tudo isso, em apenas um ano. Como podem perceber, não sou tão famosa na mercado, talvez porque os meus livros são realmente ruins, ou porque a crítica... critica, digamos assim, critica meus livros de uma forma muito negativa, e isso acaba fazendo com os leitores comprem essa ideia de o conteúdo dos meus livros são ruins, ou porque... (não dispenso essa hipótese) os meus livros são ruins. Mas desde de que entrei para o clube "Clube de escritores", os meus textos têm ficado com uma qualidade bem melhor, em relação aos de alguns... três anos atrás. Por incrível que parece, eu tenho um certo respaldo no clube, porque eu sou a única que chegou a vender 30 livros, em apenas um ano. Acho que já mencionei isso, não? Então, alguns chegam a me pedir conselhos em relação a publicação... (deve ser por isso que não fazem o menor sucesso ).

     Na verdade, não sou escritora profissional, até porque se eu dependesse disso para sobreviver, moraria embaixo de uma ponte (isso, se não me expulsarem logo na primeira semana), estaria com uns 30 quilos nesse corpinho que mede 1,70m. Ou seja, morreria de fome, porque "eu não vendo". Por conta disso, andei investigando alguns livros que fazem sucesso no mercado. Cheguei a conclusão de que autoajuda está em alta. Diante disso, resolvi me entregar a esse gênero. Escrevi "O inimigo pode ser você", levei à editora, paguei alguns exemplares, não vendi ( talvez porque a editora não fez o menor esforço para vender, ou porque... sei que a realidade é dura, eles são ruins. Muito ruins. Fiz um livro recheado de frases clichês... e o pior não foi isso, foi o fato de eu não saber cativar o leitor, não consegui fazer com o leitor se visse em uma dada situação. Vale ressaltar que reconheci essa falha, graças ao comentário da minha mãe, porque ela sempre compra os meus livros. Se tenho algum lucro sobre as vendas... é graças a minha mãe. Vendi oito livros, um a minha mãe comprou, outro foi meu tio. Só eu comprei três para eu mesma vender pela metade do preço, mas acabei distribuindo aos funcionários do prédio onde moro, e os outros três exemplares, não sei quem comprou, mas tenho quase certeza de que foram os fãs, que eu havia mencionado (,http://metade-pela-meia-parte.blogspot.com.br/2014/03/clube-de-escritores-decadentes-tentei.html). Desisti da autoajuda. 

     Mas ainda assim, não tenho do que reclamar. A minha experiência com autoajuda foi  a menos humilhante. Investiguei outros gêneros. Me deparei com literatura erótica... me atrevi a escrever...


Ana Claudia Nascimento

segunda-feira, 17 de março de 2014

Só mais um


        Toma um copinho. Isso mesmo, só um. Agora conta, o que foi que aconteceu? Não consegue? Espera. Toma, bebe só mais esse. E agora? Ah, então acabou mesmo? Como foi? Cara, para de chorar, toma um golinho. Acalmou? Pronto. Foi o que ela disse? E você? Não tentou impedir? Como você deixou uma pessoa que você ama ir assim?
        Nem consigo entender direito o que você diz, vai com calma. Tá, que calma, né? Eu sei que você sente saudades, que vocês se amavam. Mas se terminou... Olha, se serve de consolo, ela não te merecia. Você vai arranjar alguém melhor. Lembra daquela vez que vocês brigaram, o jeito que ela te tratou? Como assim foi um momento de "raiva"? Como assim a culpa foi sua? Era você que sempre estava lá, se desculpando pelos dois.
        Tá, bebe só mais uma.
        E o engraçado é que eu pensava que vocês iam se casar. Sério, eu achava. Principalmente por que no começo... Bem, começo é começo. Você sabe... No começo tudo é mais lindo, o amor no ar, presentes em todas as datas comemorativas. Depois os presentes vão decaindo. Jantares, jantares em casa, um churrasco, para enfim comprar aquela pizza da promoção.
        Eu sei, meu caro, você não descuidou. Bebe mais um tantinho.
        Foi ela. Aposto que estava com outro.
        Não chora, não chora. Eu não disse por mal, mas que outro motivo tinha? Me diz, você fez alguma coisa errada? É, você não sabe.
        Quer saber? Passa pra cá essa bebida. Você já tomou demais.
        Agora é minha vez.



Laura Penha

Riso ou desespero


        É meio a meio. Riso ou o desespero.
        É tanto problema nessa vida que a gente mal tem tempo de respirar, murmurar um "ufa". É assim mesmo. O mundo não para, quem para, quem dá um tempo nos problemas, é você. Li em um livro uma vez que se você escreve um texto e logo em seguida o lê não vai identificar os erros, por isso deve-se deixar de molho o texto escrito, dar uma pausa de um dia ou dois, para então retornar a leitura sem a dita leitura viciada.
        Não sei que nome daríamos a isso se aplicarmos na vida em si. Problema viciado? Vício de mundo? Análise de problemas viciada? Complicado...
        Deixe o problema de molho e enquanto isso se divirta. Quando você voltar a pensar nele vai estar feliz e com uma solução em mente.
        Não vicie sua mente em problemas.
        Você sabe o que dizem: "Rir é o melhor (...)"

Laura Penha


sexta-feira, 14 de março de 2014

Clube de escritores decadentes - 1

 

       Tentei compor uma ode, ode ao meu desleixo perante a escrita, minha imaginação decante, vocabulário miserável. Muitos sabem a existência de textos publicados, mas poucos sabem do pandemônio que é escrever. Escrever é duro, complicado, exige muito de você; tudo é feito em pequenas partes. É a junção de uma retalhos para poder obter um tapete. Não um tapete qualquer, um tapete raro, elegante, fino e original. Aí onde reside a complicação. Como criar um tapete original no meio de tantos já existentes? Bem, essa foi apenas uma das minhas ridículas analogias sobre o que é escrever (já devem ter percebido que gosto de uma metalinguagem, não?).

        Pois bem, não sou do tipo de escritora que possui rituais de inspiração. Escrevo, na maioria das vezes, por pressão. Ou eu sento à mesa, pego meu notebook e tento escrever, ou fico condenada à minha decadente falta de imaginação. Até porque, se não escrever, não como. Difícil isso, não? Acabei de quebrar todo o encanto dessa profissão; escritora ou escritor. Acho que não lembram de mim, sou Clara Bianque. Ah, lembram? Sabia... Não, pera, não lembram? Sim, aquela obra que ficou famosíssima, aqui no Brasil, "O garoto da piscina". E aí, e agora, lembraram? Tá bom, vou reforçar a memória de vocês. Alguém deve lembrar do livro "Risos soluçados","Amoras azuis", Lantejoula para pára-brisas", "Asfalto de canudos". Não lembraram, percebi. Também tive um blog, um blog não que não conseguia atualizá-lo mensalmente. Se não conseguia atualizá-lo mensalmente, o que dirá escrever cinco livros. 

           Não conhecem os livros, porque eles não foram publicados, ou melhor, escritos. Todas as minhas obras só pertencem ao mundo imaginário. Não sou escritora, muito mesmo, preciso escrever para comer. Para falar a verdade, eu nunca escrevi algumas palavras que tenham surtido algum efeito importante. Nada.Já fui atriz, mas não por muito tempo, acho que uns três anos.Não me aceitavam em alguns papéis porque eu não conseguia chorar, sorrir com maestria ou sequer esboçar uma reação de surpresa. Péssima atriz!Também tentei ser pintora, tentei.Como os meus traços(dos desenhos) não se encaixavam em nenhuma das técnicas já existentes, pensei ser está inovando. Engano meu, o nome técnico disso é mesmo "você é ruim nisso, tente outra coisa para sua vida". E eu tentei, mesmo, voltei a ser escritora. E hoje me encontro aqui, na noite de autógrafos do lançamento do mais novo livro, "Cadarço desamarrado".

          Autografei três  livros. "Valeu Mike!", "Tudo bem, sou seu fã número um".

         Nunca ouvi um fã falar com tanta autoridade sobre sua posição na categoria dos fãs. Realmente ele era o primeiro, haviam dois atrás dele na fila de autógrafos.


Ana Claudia Nascimento